Com ajuda de Aécio, Temer busca salvação para Eduardo
Cunha. Presidente interino acionou pessoalmente o senador do PSDB para
cumprir a missão de salvar a pele do correligionário
Enrolado até o pescoço com a Lava Jato e sob risco de perder o
mandato no plenário da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB) demandou ajuda do
interino Michel Temer (PMDB) para emplacar o sucessor na Casa e, dessa
maneira, continuar controlando aliados e aumentar suas chances de
reverter a cassação. Solidário, Temer acionou “pessoalmente” o
presidente do PSDB, senador Aécio Neves, para cumprir a missão de salvar
a pele do correligionário.
Segundo informações da
Folha de S. Paulo desta quinta (30), esse foi o motivo da visita de Cunha ao Palácio do Jaburu, no último domingo. Mas edição de
O Globo diz que Temer conversou com Aécio sobre o assunto já na semana passada.
A ideia, de acordo com fontes anônimas ouvidas pelos dois jornais, é
que a antiga oposição ao governo Dilma Rousseff deixe de tentar eleger
um sucessor para Cunha e apoio o nome sugerido pelo PMDB. Este nome,
claro, deve agradar a Cunha e aliados – uma maneira de manter a
influência do presidente afastado da Casa pelo Supremo Tribunal Federal.
Se conseguir fazer valer a demanda, Temer também evitará uma disputa
“fraticida” em sua base em torno da presidência da Câmara – indesejável
para um presidente interino que aguarda o desfecho do processo de
impeachment.
Segundo
O Globo, “Temer explicou a Aécio que desejava ajudar
na eleição de um presidente da Câmara que não trabalhe pela cassação do
mandato de Cunha. O nome que melhor se encaixa nesse perfil, na análise
do Planalto, é o do deputado Rogério Rosso (PSD).”
“Segundo relatos, Temer demonstrou preocupação com Cunha, que tem
buscado a ajuda do governo para não ter o mandato cassado”, acrescentou o
periódico.
Aécio, de acordo com os jornais, sinalizou que o bloco formado por
PSDB, PPS, PSB e DEM só deixaria de entrar na disputa atual pelo
sucessor de Cunha caso o PMDB apoio um nome indicado por eles para
presidir a Câmara no mandato 2017-2018.
A negociação ainda sofre resistência de parte do próprio PSDB, que
teme associar sua imagem à eventual salvação de Eduardo Cunha – que
precisa manter o mandato para ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal.
Caso contrário, seus inquéritos na Lava Jato, entre outros, serão
remetidos à primeira instância.
Pela edição da
Folha, uma ala do PSDB está “desconfortável”
não só com o pedido para abrir mão da disputa pela presidência da Câmara
agora, mas com a pressão para salvar o mandato de Cunha no plenário
caso o parlamentar renuncie. Ao
O Globo, um tucano não identificado disse que o partido não apoia essa parte da negociação.
Na próxima semana, a antiga oposição ao governo Dilma se reúne para debater o desfecho da história.
“A ideia é ter um acordo o mais breve possível, já que a renúncia de
Cunha à presidência da Câmara está prevista para o próximo mês.
Interlocutores de Cunha dizem que ele está disposto a apresentar sua
renúncia em 11 de julho, antes da votação do relatório sobre o processo
de cassação do seu mandato na Comissão de Constituição de Justiça”,
endossou o jornal.
Se Cunha renunciar à presidência, seus processos no Supremo deixariam
de ser apreciados pelo plenário – prerrogativa de presidente da Câmara –
e passariam para a Segunda Turma, presidida por Gilmar Mendes.
Além disso, ele ganha a chance de angariar votos a seu favor para
quando seu processo de cassação chegar ao plenário. Seus aliados dizem
que sem a renúncia, é impossível votar contra a cassação, dado o
prejuízo com a população em pleno ano eleitoral para muitos deputados
que querem concorrer ou emplacar aliados em prefeituras.
Resta saber o que Temer ganha – ou deixa de perder – salvando a pele de Eduardo Cunha.