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sexta-feira, 2 de novembro de 2012
Há algo de sério com a Cemig
Nos últimos anos, enquanto a estatal paulista CESP definhava, a Cemig
tornava-se uma potência energética. Essa expansão, aparentemente, está
sendo feita à custa de perda de qualidade e de um novelo acionário.
Como estatal, ela tem limitações para os financiamentos do BNDES (Banco
Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social). Para contornar esse
empecilho, assim como os controles burocráticos do Tribunal de Contas,
passou a criar uma série de empresas satélites, em um novelo societário
incompreensível.
É o caso da Taesa, seu braço de transmissão responsável pelo “apagão”.
* * *
A aquisição da Taesa foi feita através do fundo Coliseu, administrado
pelo Banco Modal. O fundo tem mais de 50% do controle da Taesa, mas seu
“funding” é da própria Cemig. Ou seja, o controle da fato da Taesa é da
Cemig.
* * *
Há pouco tempo, a falta de segurança nas linhas de transmissão da Cemig
provocou uma tragédia em Bandeira do Sul, Minas Gerais, com a morte de
16 jovens em um caminhão de carnaval.
Agora, o caso do “apagão” que, na sexta-feira passada, propagou-se pelas regiões Norte e Nordeste.
Segundo informou ontem o Ministro interino das Minas e Energia, Márcio
Zimmerman, o equipamento havia passado por manutenção uma semana antes.
Ele possui uma chave de proteção, que deveria ter sido reativada após a
manutenção e não foi.
Depois da manutenção, o sistema deveria ter sido submetido a testes
operacionais, que certamente identificariam o esquecimento da chave.
Também não houve os testes.
Com isso o equipamento desligou e o problema propagou-se por todo o sistema elétrico.
* * *
Não se ficou nisso. Constatado o “apagão”, a empresa demorou mais de
quatro horas para providenciar o religamento. Segundo Hermes Chipp,
diretor-geral do Operacional Nacional do Sistema Elétrico (ONS), houve
falha nos três caminhos principais de religamento da energia.
É um conjunto inadmíssivel de falhas continuadas. Primeiro, uma falha
humana. Depois, uma falha nos procedimentos básicos, que se sucede ao
fim de cada processo de manutenção. Finalmente, uma demora injustificada
para religar.
* * *
Tudo isso ocorre em um momento em que a própria Cemig encabeça um movimento de resistência à nova política energética.
Afim de reduzir o custo da energia, o Ministério das Minas e Energia
decidiu que, na prorrogação das concessões, as concessionárias não
poderia embutir na tarifa de energia a amortização do investimento –
mesmo porque, devido à sua idade, as usinas já estavam amortizadas.
A Cemig reagiu alegando que essa cláusula impediria a substituição de
máquinas, podendo acarretar problemas futuros. Recusou-se a renovar as
concessões das usinas de São Simão, Jaguara e Miranda, e ameaçou entrar
na Justiça contra as mudanças.
De repente, não mais que de repente, estoura um problema que deixa sem
energia parte relevante do país. E a causa foi um acúmulo de erros
humanos e operacionais, que nada têm a ver com investimentos.
Luis NassifNo Advivo via Contexto Livre
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