Aécio Neves preferia tirar o sapato nos EUA
Aécio Neves não gostou da decisão da presidente Dilma Rousseff de
cancelar a visita oficial a Barack Obama, o chefão da espionagem
internacional. “Todos nós já demonstramos a nossa indignação em relação à
espionagem havida. Ela é inadmissível. Mas seria muito mais adequado
que a presidente dissesse isso objetiva e claramente ao presidente
americano e aproveitasse a viagem não apenas para enfrentar esta
questão, mas para defender os interesses da economia e, até mesmo, de
determinadas empresas. Era a oportunidade de a presidente ter uma agenda
afirmativa em defesa dos interesses do país. Ela opta mais uma vez por
privilegiar o marketing”, afirmou o cambaleante presidenciável tucano.
O anúncio do cancelamento da visita foi feito nesta terça-feira. Em nota
oficial, a presidenta Dilma afirmou que “o governo brasileiro tem
presente a importância e a diversidade do relacionamento bilateral,
fundado no respeito e na confiança mútua”. Mas, de forma altiva,
enfatizou: “As práticas ilegais de interceptação das comunicações e
dados de cidadãos, empresas e membros do governo brasileiro constituem
fato grave, atentatório à soberania nacional e aos direitos individuais,
e incompatível com a convivência democrática entre países amigos...
Tendo em conta a proximidade da programada visita de Estado a Washington
– e na ausência de tempestiva apuração do ocorrido, com as
correspondentes explicações e o compromisso de cessar as atividades de
interceptação – não estão dadas as condições para a realização da visita
na data anteriormente acordada”.
De imediato, o presidente nacional do PSDB reagiu à decisão. Para Aécio
Neves, ela é pura jogada de “marketing”. Ele preferia os tempos de FHC,
quando o ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, tirava os
sapatinhos para ser apalpado quando chegava aos aeroportos dos EUA, num
gesto de subserviência patético. No triste reinado dos tucanos, o
Brasil adotou a política do chamado “alinhamento automático” com o
império. Ela quase resultou na assinatura do acordo neocolonial da Área
de Livre Comércio das Américas (Alca) e na cessão da base militar de
Alcântara (MA) para as forças armadas dos EUA. Foi também neste período
que a espionagem ianque foi aceita sem alardes e objeções.
O senador mineiro várias vezes já disse e escreveu que discorda da
política externa mais altiva dos governos Lula e Dilma, que garantiu
maior projeção internacional ao país. Ele costuma rotulá-la “terceiro
mundista” e “bolivariana”. Para ele, o Brasil deveria retomar a política
do “alinhamento automático” com os EUA, rompendo as relações
privilegiadas com os países do Brics e os esforços da integração
latino-americana. No seu sonho presidencial, cada dia mais distante,
Aécio Neves talvez também gostaria de tirar os sapatinhos nos aeroportos
dos EUA.
Altamiro Borges
No Justiceira de Esquerda
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