domingo, 2 de setembro de 2012
Aécio Neves usa mensalão em BH e faz sua ode ao cinismo
Ao lado de Marcio Lacerda, prefeito de Belo Horizonte que, em 2002,
sacou R$ 1,3 milhão das empresas de Marcos Valério, o senador Aécio
Neves introduz o mensalão na campanha mineira. Será que esqueceu em que
estado, em que governo e em que partido a tecnologia de financiamento de
campanhas das agências de publicidade DNA e SMPB foi criada?
Era de se esperar que o senador mineiro Aécio Neves não explorasse o
tema do mensalão na campanha municipal de Belo Horizonte. Seria mais
prudente. Não só porque o esquema foi criado na tentativa frustrada de
reeleição do tucano Eduardo Azeredo, correligionário de Aécio, em 1998,
mas também porque seu atual aliado, o prefeito Marcio Lacerda, de Belo
Horizonte, poderia ter sido um dos réus da Ação Penal 470.
Mas Aécio foi imprudente. Neste sábado, numa carreata em Belo
Horizonte, citou pela primeira vez o caso – descumprindo uma promessa
que ele próprio havia feito. “O PT tem um viés equivocado ao analisar a
questão de investimentos, porque ele trata recursos públicos como se
fossem seus. Dinheiro federal, dinheiro estadual, isso é menos
importante, é dinheiro do povo, são impostos que todos nós aqui
pagamos”, disse o senador. “Mas o PT se apropria das empresas públicas,
como fez agora, (como foi) comprovado pelo Supremo Tribunal Federal, em
relação ao Banco do Brasil. Uma vergonha, uma instituição secular, um
símbolo do Brasil que se desenvolveu, que avançou, e utilizada na forma
como foi provada agora pelo Supremo Tribunal Federal para atender a
interesses do partido”, disse Aécio.
Em 2002, Márcio Lacerda coordenava a campanha presidencial de Ciro
Gomes, que não passou para o segundo turno. Naquela edição, Lula venceu
José Serra. A campanha de Ciro, no entanto, deixou dívidas pesadas. E
foi Marcio Lacerda quem sacou R$ 1,3 milhão das empresas de Marcos
Valério para quitá-las. Não se tornou um dos personagens da CPI dos
Correios em decorrência de um acordo político ainda hoje mal explicado.
Em 2008, Lacerda se tornou prefeito de Belo Horizonte, eleito pelo PSB,
porque tanto o PT quanto o PSDB decidiram apoiá-lo. Sorte dele, que
tem feito boa gestão e foi apontado numa pesquisa recente do Instituto
Datafolha como o melhor prefeito do País. Mas se destino tivesse sido
mais traiçoeiro – ou mais igualitário em relação aos sacadores de
recursos nas agências de Valério – Lacerda hoje estaria sentado no banco
dos réus, ao lado de Delúbio Soares, José Genoíno e José Dirceu.
Se isso não bastasse, o mensalão mineiro, ou mensalão tucano, foi
abastecido com recursos de várias estatais do Estado, como a Copasa e a
Cemig, que adquiriram patrocínios inexistentes num evento de
motociclismo chamado de “Enduro da Independência”. Dali saiu boa parte
dos recursos da campanha de Azeredo, coordenada por Walfrido dos Mares
Guia (que coordena a de Marcio Lacerda), para o chamado mensalão
mineiro.
Uma declaração como a de Aécio neste sábado deixa a dúvida: o Brasil
está mesmo sendo limpo, purificado, ou é só uma maré de cinismo e
hipocrisia?
No 247
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