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quinta-feira, 3 de julho de 2014
Choque de gestão: Homicídios em Minas cresceram 52,3% entre 2002 e 2012, revela estudo
Em 2012, 112.709 pessoas morreram em situações de violência no país,
segundo o Mapa da Violência 2014, divulgado nesta quarta-feira (2). O
número equivale a 58,1 habitantes a cada grupo de 100 mil, e é o maior
da série histórica do estudo, divulgado a cada dois anos. Desse total,
56.337 foram vítimas de homicídio, 46.051, de acidentes de transporte
(que incluem aviões e barcos, além dos que ocorrem nas vias terrestres),
e 10.321, de suicídios.
Entre 2002 e 2012, o número total de homicídios registrados pelo
Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde,
passou de 49.695 para 56.337, também o maior número registrado. Os
jovens foram as vítimas em 53,4% dos casos, o que mostra outra tendência
diagnosticada pelo estudo: a maior vitimização de pessoas com idade
entre 15 e 29 anos. As taxas de homicídio nessa faixa passaram de 19,6
em 1980, para 57,6 em 2012, a cada 100 mil jovens.
Segundo o responsável pela análise, Julio Jacobo Waiselfisz,
coordenador da Área de Estudos da Violência da Faculdade
Latino-Americana de Ciências Sociais, ainda não é possível saber “se o
que ocorreu em 2012 foi um surto que vai terminar rapidamente ou se
realmente está sendo inaugurado novo ciclo ou nova tendência”. Ele lista
situações que podem ter gerado o aumento, como greves de agentes das
forças de segurança ou ataques de grupos criminosos organizados.
Uma tendência já confirmada é a disseminação da violência nas
diferentes regiões e cidades. Entre 2002 e 2012, os quantitativos só não
cresceram no Sudeste. As regiões Norte e Nordeste experimentaram
aumento exponencial da violência. No Norte, por exemplo, foram
registrados 6.098 homicídios em 2012, mais que o dobro dos 2.937
verificados em 2002. O Amazonas, Pará e Tocantins tiveram o dobro de
assassinatos registrados no mesmo intervalo de tempo. No Nordeste, o
Maranhão, a Bahia e o Rio Grande do Norte mais que triplicaram os
homicídios.
Na década, o Sul e o Centro-Oeste tiveram incrementos percentuais de
41,2% e 49,8%, respectivamente. No Sudeste, a situação foi mais variada,
com diminuição significativa em estados importantes, como o Rio de
Janeiro e São Paulo. Já em Minas Gerais, os homicídios cresceram 52,3%
entre 2002 e 2012.
As desigualdades são vivenciadas entre as regiões e também dentro dos
estados. Nenhuma capital, em 2012, teve taxa de homicídio abaixo do
nível epidêmico, segundo o Mapa da Violência. Todas as capitais do
Nordeste registraram mais de 100 homicídios por 100 mil jovens. Maceió, a
mais violenta, passou dos 200 homicídios. No outro extremo, São Paulo,
com a menor taxa entre as capitais, ainda assim registra o número de
28,7 jovens assassinados por 100 mil.
O balanço da década mostra, contudo, que não é possível afirmar que há
tendência comum de crescimento. Entre 2002 e 2012, as capitais
evidenciaram queda de 15,4%, com destaque para meados dos anos 2000,
quando a redução foi mais expressiva, o que, segundo o organizador,
comprova que a situação pode ser enfrentada com políticas públicas
efetivas.
Em cidades do interior, o número tem crescido. Jocobo disse que são
especialmente os municípios de pequeno e de médio porte os que têm
sofrido com a nova situação. Ele cita dois possíveis motivos para isso:
por um lado, o investimento financeiro em políticas públicas nos grandes
centros urbanos, como Rio e São Paulo, ajudaram a diminuir a violência.
Por outro, houve o desenvolvimento de novos polos econômicos no
interior, que atraíram investimentos e também criminalidade, “sem a
proteção do Estado como nas outras cidades”.
Se o país precisará esperar alguns anos para verificar o comportamento
das taxas de homicídios, no caso dos acidentes de transporte há pouca ou
quase nenhuma dúvida, dado o crescimento dos registros, à revelia das
leis de trânsito que, na década de 1980, foram responsáveis pela redução
desses acidentes.
As principais vítimas, segundo o estudo, são os motociclistas. Em 1996,
foram 1.421 óbitos. Em 2012, 16.223. A diferença representa cerca de
1.041% de crescimento. Há “uma linha reta desde o ano de 1998, com um
crescimento sistemático de 15% ao ano”, conforme a pesquisa.
Segundo o sociólogo responsável pela publicação, a situação é fruto “de
um esquema ideológico que apresentou a motocicleta como carro do povo,
por ser econômica, de fácil manutenção”. Assim, “em vez de se investir
em transporte público, o trabalhador pagaria sua própria mobilidade”. E
mais, fez dela o seu trabalho, seja como motoboy, entregador ou
mototaxista, “em situação de escassa educação no trânsito, pouca
capacidade de fiscalização e baixa legislação”, avalia Julio Jacobo
Waiselfisz.
Ao todo, foram registradas 46.051 mortes por acidentes de transporte em
2012, 2,4% a mais que em 2011. Os dados oficiais reunidos para o
estudo mostram que ocorreram, naquele ano, 426 mil acidentes com
vítimas, que devem ter ocasionado lesões em 601 mil pessoas. A situação
“é muito séria e grave”, alerta o autor do trabalho, que destaca que é
preciso lembrar que “o cidadão tem o direito a uma mobilidade segura e é
obrigação do Estado oferecê-la”.
O suicídio também teve aumento na taxa de crescimento. Diferentemente
das outras situações, a elevação vem se dando desde os anos 1980.
Conforme o relatório, o aumento foi 2,7% entre 1980 e 1990; 18,8%, entre
1990 e 2000; e 33,3%, entre 2000 e 2012. Nesse caso, a idade das
pessoas envolvidas é também menos precisa. Tanto jovens quanto idosos
têm sido vítimas.
Com a publicação do estudo, feito com o apoio da Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial, da Secretaria Nacional de
Juventude e da Secretaria-Geral da Presidência da República, espera-se,
conforme o texto, “fornecer subsídios para que as diversas instâncias da
sociedade civil e do aparelho governamental aprofundem sua leitura de
uma realidade que, como os próprios dados evidenciam, é altamente
preocupante”. (*Com Agência Brasil via Hoje em Dia)
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