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terça-feira, 27 de setembro de 2011

Aécio Neves e sua inflação de banalidades

do minas sem censura
Aécio Neves e sua inflação de banalidades
26/09/2011
O textinho de Aécio, publicado nessa segunda-feira (26/09), tem como preocupação aparente a volta da inflação.
Ele discorre sobre números, com um nível de profundidade inversamente proporcional à complexidade do tema. O IPCA de agosto, alerta-nos o senador mineiro, mostra a cifra acumulada (anual) de 7,23% e o IPCA-15, 7,37%. A inflação por setores (vestuário, transporte, alimentação e gastos pessoais) também preocupa o neto de Tancredo.
Fala ainda em “abrupta desvalorização da taxa de câmbio” que, em uma semana, variou 9,2%. Insinuando, assim, que tal desvalorização fosse uma decisão de governo. E dá-lhe blá-blá-blá, tró-ló-ló, ti-ti-ti.
Ao final, ele registra que nada “justifica o retorno de políticas voluntaristas”. Ah, no meio do seu escrito sob o pretexto de desqualificar a recente queda nas taxas de juros, ele “avança” a senha: faltaria um esforço fiscal restritivo e o governo Dilma “surpreendentemente” teria adotado políticas inflacionárias que podem danificar empresas e penalizar os mais pobres.
Resumindo a prosa: sem explicitar, o que Aécio quer são os cortes de gastos em programas sociais, arrocho salarial dos servidores públicos, demissão nos setores públicos e privados, a volta das férias coletivas, paralisação de obras do PAC, cancelamento das medidas do plano “Brasil Maior” etc. Ainda que, ironicamente, diga que não há motivos para pânico.
A pressão inflacionária é preocupante mesmo. Mas não pelos motivos superficiais alegados pelo nosso bacharel em economia. Tal pressão é uma resultante de fatores internacionais que não dominamos:  na “zona do Euro”, nos EUA, na Ásia e no Oriente Médio (dívida americana, guerra cambial patrocinada pela China, aventuras militares em países produtores de petróleo, farras da agiotagem financeira, crise na Grécia, Itália, Portugal etc); e de problemas internos que mereceram, no passado recente, posturas distintas se comparados os governos Lula aos dois de FHC.
Há um vídeo bem humorado na internet mostrando como se diferenciam essas duas abordagens (“Entenda como Serra quebraria o Brasil na crise mundial”) e que pode ser acessado em qualquer sistema de busca na rede ou, diretamente, pelo link:
O que Aécio chama de esforço fiscal restritivo é desenvolvido por líderes tucanos nesse curto vídeo.
Em síntese, a diferença é: combater a crise ao modo FHC, com juros altos, arrocho fiscal, salarial, desaquecimento da economia, desemprego etc; ou à moda Lula, investindo em políticas equilibradas que combinem manutenção da atividade econômica, proteção do mercado interno, taxas de emprego, consumo responsável etc.
Aécio “arrisca” a dizer que o governo Dilma teria abandonado o regime de metas de inflação. Ele aposta num palpite e não nos dá nenhuma pista disso. Ao contrário, o pronunciamento do governo federal é claro: o tripé que sustenta a condição de enfrentamento da crise (câmbio flutuante, responsabilidade fiscal e regime de metas) está sendo reforçado.
Comparando a 2008, o país tem U$ 150 bilhões a mais em relação às Reservas Internacionais. Para brincar com percentuais: 500% em relação ao governo FHC (no ano em que Aécio presidia a Câmara de Deputados)! R$ 170 bilhões a mais de Depósitos Compulsórios, também em relação a 2008.
Lula e Dilma adotaram medidas importantes que, pelo seu grau de tecnicalidade, não podem ser desenvolvidas neste curto espaço (nem Aécio mereceria tal deferência), mas vale apenas mencionar: oneração de empréstimos internacionais de curto prazo e de operações com derivativos; ampliação das margens sobre depósitos compulsórios; medidas prudenciais em relação ao “boom” de crédito e de seus prazos alongados; implementação antecipada de medidas recomendadas internacionalmente, pressionando os bancos a constituírem seus “colchões” de amortecimento de crises e melhor cobertura de riscos etc. Operações de crédito de longo prazo foram incentivadas com a criação da “Letra Financeira” que é isenta, integralmente, do recolhimento compulsório. Isso sem falar que medidas macroprudenciais são tomadas e o monitoramento da própria crise é feito sem improvisação e de forma ordinária, quotidiana, por organismos responsáveis pela regulação financeira no país.
Enfim, de fato a crise é grave e exige mergulho profundo num mar revolto. E não será qualquer surfista de águas rasas que dará lições de economia, política fiscal e monetária, a quem enfrentou a de 2008 e dela saiu fortalecido.
Veja tambem 
A herança bendita de FHC, 12,5% de inflação em 2002. Quanta saudade!

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